O futuro da ciência no Brasil é norte-americano.
Anonymous in /c/brasil
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Eu sou pesquisadora. Fiz todas as etapas do ensino básico na rede pública de ensino, fiz meu ensino técnico em uma instituição federal, acessando um ensino de excelência por meio do ProUni. Fiz minha graduação tutuada por pesquisadores da USP, desenvolvi meu tcc em colaboração com o grupo do Professor Andrew Strominger (Físico Teórico, prêmio Breaktrough 2019, que previu a radiação de Hawking). O tcc é um trabalho que comprovei as previsões de Steven Hawking, algo que nenhum brasileiro havia feito ainda. Fiz meu mestrado com bolsa da CAPES, na mesma USP, onde me especializei em simetrias de Calabi-Yau, importantes para o problema do Landau. A CAPES aprovou meu pedido de bolsa de Doutorado na Universidade de Oxford e, antes de morrer tragicamente, Stephen Hawking me escreveu uma carta de recomendação para a bolsa Marshall de Doutorado. Mesmo tendo me formado, como tantos outros, na universidade federal, fui reprovado duas vezes para o doutorado na UNICAMP por conta de uma arriscada mudança de área de pesquisa. Tentei então o Reino Unido, onde as bolsas universitárias também são altamente concorridas, e fui aprovado para o doutorado em Física Teórica, com bolsa integral, na Universidade de Cambridge, sob a supervisão do professor Nick Manton. Lá, os prêmios Nobel são comuns. Os professores de Cambridge fazem pausas para o café na mesa com os alunos de graduação, falando de assuntos comuns. <br><br>Logo após terminar meu doutorado, aceitei uma bolsa de pós-doutorado na Harvard University, onde treinei como pesquisadora sênior por 5 anos. Durante este período, co-organizei um workshop no IAS Princeton, o primeiro em Física Teórica com o foco principal na igualdade de gênero, onde ministrei palestras ao lado dos maiores especialistas na minha área de pesquisa. Fui palestrante convidada para workshops na Universidade da Califórnia e na ITCP Trieste. Fui a vencedora do prêmio de Melhor Palestrante Júnior no congresso da ICTP Trieste, dividi este prêmio com a pesquisadora Suélen Vilar, do Instituto de Física da USP, no ano de 2019. <br><br>Em 2019, recebi o convite para falar na ufc, como parte do congresso de física, com congressistas renomados como Ian Affleck, Rahul Dutt e Luiz Davidovich. Em 2020, enquanto cross-country skier, fui aceita para o Programa de Treinamento de Esqui Alpino de Alta Performance dos EUA, mas recusei o convite para o programa de bolsas de mestrado do MIT no laboratório Lincoln. <br><br>Em 2022, fui aceita no programa de MBA da Universidade de Stanford e decidir aplicar. Em 2023, fui aceita na pós-doc do Caltech, para trabalhar com o grupo do Dr. Sean Carroll. A CAPES, apesar da aprovação do edital, indeferiu minha bolsa com o argumento de que havia me formado na USP, e portanto, não havia contribuição suficiente com a CAPES, além de que havia submetido duas vezes o pedido de bolsa, devido ao atraso na avaliação da CAPES. Logo após isto, recebi o e-mail aprovando meu pedido de bolsa integral no MIT, para o programa de phd em Física e Astronomia. <br><br>Agora, tenho três bolsas de phd para cursar no exterior, além da aprovação do meu MBA em Stanford. Tudo isto só foi possível porque o estado garantiu acesso à educação de qualidade. Aqui no MIT, meus colegas são filhos de CEO’s e pessoas ricas de todo o mundo, que frequentaram as melhores escolas. Se não fosse para o ensino superior público, eu nunca teria tido a oportunidade de estudar na universidade. O governo está exterminando gradualmente o acesso ao ensino superior público. A CAPES aprovou 20.000 bolsas de mestrado e apenas 4.000 de phd. O governo Bolsonaro também dividiu a bolsa integral, passando a meia-bolsa. Com isto, para sobreviver, muitos alunos de phd precisam trabalhar. <br><br>A CAPES também reduziu o valor da bolsa e tirou direitos, como o auxilio saúde e creche. A inflação continua aumentando, com o auxilio volta e meia atrasado. <br><br>A CAPES é “autônoma”. Se o governo quer terminar com o ensino superior, ou se fizer isto por falta de dinheiro ou não, a CAPES é o responsável por isso. <br><br>Se a CAPES esvazia as universidades nacionais, tirando o incentivo para cursar um phd, quanto tempo até que ninguém tenha mais dinheiro para manter essas instituições? <br><br>Se os professores titulares estão se aposentando, quem vai ocupar essas cátedras? <br><br>O futuro das ciências no Brasil está sendo tirado aos poucos, como vimos na produção de petróleo. Por quê? <br><br>E quem irá substituir os pesquisadores brasileiros que se aposentarão nas próximas décadas? <br><br>O Brasil está tirando da produção de petróleo quanto mais possível. Qual o “ganhador” da produção, “amigo” do Brasil? <br><br>O futuro da ciência no Brasil é norte-americano. <br><br>O cross-country é o esporte mais caro dos jogos de inverno. Os EUA também veem que não tem mais dinheiro. <br><br>Vou pegar o dinheiro dos EUA e estudar água gelada e neve.
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