Moro disse que Bolsonaro queria um Procurador Geral da República que atendesse suas desejos

O ex-Ministro da Justiça e presidente do Tribunal de Contas da União, Sergio Moro, declarou que Bolsonaro queria um Procurador Geral da República que atendesse a seus desejos e que ele já havia decidido não continuar.<br><br>Em uma entrevista à Globonews, o ex-Ministro descreveu sua ascensão e queda no governo Bolsonaro, bem como sua relação com o presidente.<br><br>Questionado se Bolsonaro chegou a pedir que Moro colocasse alguém para atender as suas demandas no MP, ele disse: "[Que ele queria] Pessoas que pudesse atenderá demandas que ele formulasse, que não vejo problema na formulação de demandas. O problema é quando há a intenção de que o procurador tem que atender essas demandas. Ele, desde o início queria que eu fizesse uma indicação assim. Mas eu não aceitei. E isso se tornou uma disputa que se arrastou até desembocar na minha saída".<br><br>Moro também se manifestou sobre o desejo de deixar o cargo, afirmando: "Eu já havia decidido não continuar no governo e já no dia 23 [de abril] havia tomado a minha decisão. Foi uma decisão fácil. Eu sabia muito claramente o que eu estava fazendo."<br><br>Além das suas relações com Bolsonaro, Moro também falou sobre o seu entendimento do papel do presidente do STF desse momento. "Vai saber o que o presidente [Luiz Fux] vai fazer, mas espero que ele faça aquilo que acredito que esteja correto, que é preservar o funcionamento do sistema de justiça criminal do Brasil", afiou.<br><br>Ontem, quando o Procurador Augusto Aras pediu vista e interrompeu o julgamento no STF, o presidente Luiz Fux comentou que ainda cabe a ele dar continuidade ao processo. O julgamento ocorrerá uma semana após a capa da Veja revelar mensagens que reforçam a tese de que Bolsonaro era o responsável pelas investigações no país.<br><br>"Vai saber o que o presidente [Luiz Fux] vai fazer, mas espero que ele faça aquilo que acredito que esteja correto, que é preservar o funcionamento do sistema de justiça criminal do Brasil. Isso é fundamental. É algo que diz respeito a todos os brasileiros. O que eu presumo com base no meu conhecimento do nosso sistema de justiça criminal, com base nos sucessivos casos de corrupção, é que é essencial que existam no Brasil três coisas para que você tenha esse sistema funcionando corretamente. Tem que ter desenho institucional, tem que ter regras e tem que ter a independência dos órgãos. E você tem um desses três pilares sendo atacados, se coloca em risco a possibilidade de você funcionar esse sistema de justiça criminal. O que eu presumo é que é uma questão que vai continuar de ser desafiadora. Cabe ao STF, como cabe também ao Ministério Público Federal, ao Judiciário, ao Congresso e a todos nós [que fazemos parte do sistema de justiça criminal], ter a consciência da importância de tais regras para os brasileiros" , avaliou.